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domingo, 23 de setembro de 2012

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA



Texto de Luiz Antônio Simas

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.
Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.
Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil.
Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias o u coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não.
Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

Abraços,
Luiz Antônio Simas

(Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio).

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Tudo ótimo

Texto e foto de Valéria del Cueto

- Bom dia, como vai, senhora? – (essa senhora sou eu).
- Tudo ótimo – respondo sorrindo ao pensar que não reparei o momento exato em que virei “senhora”.
- Nossa, que coisa incrível – diz a atendente do balcão da padaria. – Que milagre! – Exclama com um sincero “ar” de surpresa.
- Como assim? – pergunto intrigada com sua reação - Não entendi...
- Me desculpa, dona, acontece que nunca ninguém respondeu com um “tudo ótimo” ao meu bom dia – explica a moça enquanto para de esfregar furiosamente a superfície do balcão. Seus olhos brilham tão úmidos quanto pano que ela tem nas mãos.
E eu, que na noite anterior havia sido despachada do bonde que me trouxe à Florianópolis, abro o meu mais caloroso e especial sorriso. Era isso ou tê-la que ajudar o balcão inundado de nossas ameaçantes lágrimas.
Como não estaria tudo ótimo? Na véspera, ao sair pela última vez do local em que trabalhei arduamente, em média 12 horas por dia, desde que aqui cheguei (campanha é assim mesmo) uma ENORME lua cheia desenhava o contorno de uma das montanhas da Ilha da Magia, enchendo o céu quase claro de feitiço noturno.
Foi com ela me guiando que, pela primeira vez, pude entrar num maravilhoso restaurante a beira mar onde um filho de Oxalá se apresentou e me abrigou com uma conversa tão deliciosa quanto o gnocchi da fortuna que saboreei com um dia de atraso, “firmando” e pensando na simpatia que é de lei na casa da minha avó.
A conversa, embalada por uma garrafa de um excelente vinho português, de matar de inveja minha maninha Maria Lima, fluiu gostosa. Como aquelas que temos com velhos amigos que se reencontram mesmo sem nunca terem se visto anteriormente. Cercada de atenção e carinho por Andrade, o encarregado de nos levar pelos caminhos das delícias do restaurante Macarronada Italiana.
Quando abri a janela, na manhã seguinte, o sol, que há dias andava de castigo encoberto por pesadas nuvens que traziam as chuvas e um frio de bater os dentes, daqueles que penetram até pelos pespontos da costura lateral da calça jeans, resplandecia abusado. Aquecendo meu corpo ele me intimava a um esforço extra para, ao menos, tirar dois dias de folga antes de rodar a roleta e jogar a bolinha que definirá meu próximo pouso.
Foi assim que cheguei ao pão com queijo na chapa e ao expresso duplo que me levou ao “tudo ótimo”.
Enquanto tomo o café e conto um conto pra você, fiel leitor(a) e confidente, ouço o toque do celular que interrompe e quebra minha concentração.
A voz que escuto vem de longe, bem de longe. Vem do Rio. É minha mãe que, atendendo a um pedido meio impossível, passa o telefone para Dona Ena. Minha avó, minha madrinha, minha mais antiga e mais querida amiga. O amor incondicional da minha vida.
Ela, que está no hospital, quase tão perto de Deus quanto de nós, que tanto a amamos, me chama de “Maria Valéria” e diz que me ama muito. Como sempre. Muitas vezes. Pedindo pra que eu me cuide, diz baixinho outras palavras carinhosas enquanto, tentando disfarçar a voz, sinto as lágrimas do “tudo ótimo” querendo deslizar pelo meu rosto. Ali, em plena padaria do posto de gasolina. Sei que ela vai sair dessa! Tenho fé e rezo para isso.
Não sei como está a sua vida, querido leitor, mas para mim, ainda que triste, ela sorri. E se alguém me perguntar, mesmo que só por gentileza, como estou, a resposta, você já sabe: Está tudo ótimo! E com você?
PS A minha foto de hoje é um ato. Feche os olhos e imagine quem está nesse retrato.
*Valéria del Cueto é acima de tudo, uma neta amorosa e apaixonada. Esta crônica faz parte da série “Parador Cuyabano” do SEM FIM. delcueto.cia@gmail.com

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Café X Saúde


Segundo um novo estudo, algumas xícaras de café por dia podem manter a tristeza longe, pelo menos para as mulheres.
Mulheres que bebem café (com cafeína) são menos propensas à depressão, e quanto mais elas bebem, mais o risco de depressão cai.
O estudo incluiu mais de 50.000 mulheres com idades entre 30 e 55 anos que periodicamente preencheram pesquisas sobre seu consumo de café e saúde.
Nenhuma das mulheres tinha sintomas de depressão ou histórico de depressão no início do estudo, mas durante os próximos 10 anos, cerca de 5% receberam um diagnóstico de depressão ou começaram a tomar medicação antidepressiva.
Comparado com mulheres que bebiam pouco ou nenhum café, aquelas que em média tomavam duas a três xícaras por dia tinham 15% menos chances de desenvolver depressão.
Há uma indicação muito forte de que há um relacionamento entre cafeína e depressão, mas isso não significa que o café vai parar a depressão. Os cientistas precisam de hipóteses para o mecanismo no trabalho, e estudar mais a fundo o que está acontecendo.
O café pode ajudar na prevenção de muitas doenças.
Uma xícara de café possui mais anti oxidantes do que um copo de suco de laranja.
O consumo do café é um hábito muito saudável, não é remédio ou cura para todas as doenças, mas pode prevenir problemas futuros. A apreciação do café é uma paixão que faz bem!
O café produz atividade anti-inflamatória e protetora sobre o sistema cardiovascular.
Possui atividade antagonista opióide (bloqueia o desejo por drogas).
É uma bebida aquosa, não contém gorduras e proteínas sendo mínimo o valor calórico.
Que tal um cafézinho??????