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domingo, 13 de junho de 2010

Máscaras do cotidiano

Texto e foto de Valéria del Cueto
Estou de máscara, literalmente. Sentada na soleira da porta do chalé da Travessa da Piscina, sentindo a pele do meu rosto geladinha. O frescor vem da brisa da tarde que, se aproveitando das portas e janelas abertas, brinca de corrida por dentre as paredes da casinha da Chapada dos Guimarães. Esta brisa endurece vagarosamente meu rosto, a medida em que a argila que cobre a pele seca lentamente.
Máscaras. Quantas temos? Quantas nos escondem, em cada situação da nossa vida?
Acho que quando as construímos, na maioria das vezes, procuramos embelezá-las, adequá-las da melhor maneira possível ao ambiente onde pontificarão. Tentamos.
Mas, algumas vezes o resultado não é o esperado, ela não se adapta a nossa face, não combina com nosso olhar ou com nossos gestos. A máscara se transforma um disfarce grotesco, uma caricatura...
Outra possibilidade é que, como a que estou usando agora, ela vá se amalgamando com a face do nosso verdadeiro eu e virando uma mescla endurecida. Até que sentimos não mais poder suportá-la. Das duas uma: ou deixamos que a máscara nos molde ou a estilhaçamos, destruímos e inutilizamos sua função.
Há outros casos de uso de máscaras. Uma delas é quando, em vez de projetá-las belas e sedutoras, a criamos para obscurecer o brilho, usamo-las para passarmos desapercebido, ficarmos invisíveis em determinados lugares e situações.



Essas são, em minha opinião, as máscaras mais difíceis de serem concebidas. Resultado do trabalho de exímios artesãos. Por que reproduzir o comum, o usual, hoje, é mais elaborado e complicado do que buscar aquilo que todos almejam e, por isso, poucos alcançam: as máscaras do “olha eu aqui”.
Mas, no caso do desaparecimento voluntário e proposital, uma máscara convincente não é o suficiente para atingir o estado de invisibilidade desejado. Há o olhar. É necessário - e muito difícil - disfarçá-lo, ocultá-lo. Não há máscara para o olhar.
Há sim, um truque clássico: desviá-lo. Nunca encarar. Estar sempre com ele baixo, guardado. Oculto de outros olhares enquanto durar o disfarce.
Se, por acaso, ele for fisgado, capturado, pode ter certeza que a máscara do esquecimento cai por terra e revela, ao caçador, tudo aquilo que a invisibilidade tão zelosamente protege.
E, pode ter certeza, quem caça os que se disfarçam com o manto do esquecimento, da invisibilidade, o faz por uma única razão: sabe que aí tem coisa. Que numa alma escondida, quando descoberta e escancarada, sempre tem coisa!

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Parador Cuyabano, do SEM FIM HYPERLINK "http://delcueto.multiply.com" \t "_blank"http://delcueto.multiply.com  

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