Acessos

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O sertão vai virar mar e o mar virar sertão.


Texto e foto de Valéria del Cueto

Escuto este vaticínio desde criança. Para não ter medo de perder meu lugar ao sol na praia da vez, anos atrás, tratei de comprar uma terrinha na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, colada no Parque Nacional e no colégio Buriti, na estrada da Água Fria.

Baseei-me nas previsões de Dom Bosco para decidir o local do empreendimento, assim como Juscelino Kubitscheck as usou para definir onde seria construída Brasília. É claro que preferi um dos vértices opostos ao da Capital Federal. As chances eram: Chapada dos Guimarães ou a região de Araxá, em Minas Gerais.

A quina mato-grossense me pareceu mais selvagem e isolada, portanto, a menos movimentada. Doce ilusão. Escolhi meu ponto faz tanto tempo que não contei com a possibilidade de eventos como a explosão econômica de Mato Grosso ou a escolha da capital do estado como uma das sub-sedes da Copa do Mundo.

Se essa profecia se cumprir ao pé da letra, certamente terei problemas! Digo isso, por que começo a achar que o dito dom bosquino se trata de uma metáfora, não obrigatoriamente geográfica, mas, objetivamente, de valores e, neste campo, já cumprida.

Mar é sertão e o sertão já alagou quando o assunto é, por exemplo, moral.

Ética, honestidade e fidelidade hoje em dia são conceitos, digamos assim, em extinção, como seriam os seres e plantas engolidos pelas águas do dilúvio anunciado, enquanto o “cumpadreio”, o “vale tudo” e o “quero o meu” proliferam incontroláveis onde antes existiam mares de indignação contra as iniqüidades que apenas ameaçavam nossa sociedade.

Maldigo e agradeço o predestinado que previu o futuro - que já está aí – pelo aviso antecipado e a imagem escolhida para transmiti-lo. No meu caso, tanto tempo fiquei procurando o meu lugar ao sol no mar (sertão), que só notei a amplitude real da sabedoria profética quando a inversão sertão/mar da moralidade já estava em plena transição.

É lamentável chegar à conclusão que está tudo dominado nas esferas política e social. A decepção aumenta quando, analisando historicamente, descobrimos que esta inversão de valores se concretizou justamente sobre os auspícios de quem, agora sabemos, pregou crença que não acreditava e moral que nunca teve a menor intenção de praticar.

Eles, para alcançarem seus objetivos pífios e espúrios, se servem de qualquer argumento disponível e se aliam aos que deveriam ser seus piores inimigos (isso, antes de chegarem ao poder, para ali permanecerem). Usam e abusam do vale tudo, vale o que houver, vale o que vier. Com um detalhe. Pela nova lei já pode até dançar homem com homem e mulher com mulher!

Sinal dos tempos...

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário