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segunda-feira, 2 de maio de 2011
Sobreviver é preciso!
Texto sem foto de Valéria del Cueto
Abstrair e filtrar são os segredos de hoje. Ou vice versa. É um exercício de sobrevivência. Esteja onde estiver, faça o que fizer, selecione. Como acontecia com um velho amigo que se dizia surdo. Mas, na prática, só ouvia o que queria. E bem!
Se a praia está cheia por que é feriado, faz um sol radiante e o Rio Janeiro resolveu ir ao Leme, não desista do programa. Junte-se a multidão e abstraia. Filtre os sons e os movimentos que te interessam.
No meu caso, fica somente o ruído do mar. O vai e vem das ondas.
E, se for seu dia de sorte - como parece ser o meu - dois minutos depois da suprema decisão de ficar em meio a farofa reinante e do cerimonial de arrumar a canga, tirar a saída de praia (que coisa antiga! Estou de short e camiseta), sacar a caneta e o bom e velho caderno, ainda em pleno exercício, e começar a escrivinhação, o ajuntamento com direito a várias cadeiras, dois guarda-sóis e uma geladeira de isopor se dissolverá em pleno ar em busca de um almoço. Abrir-se-á ali um generoso e amplo espaço, bem na beirinha da água, todinho pra você.
Não é lenda. Acontece. Acaba de acontecer comigo, o que me fez mudar um pouco o rumo da prosa. Mas não muito.
Abstrair, filtrar, mas não entregar a rapadura. Nem o Pantanal.
Foi envergonhada que vi uma matéria nacional sobre as Pequenas Centrais Hidroelétricas – PCHS, agora alvo de uma CPI na Assembléia Legislativa de Mato GrossoCom indignação vi dizerem, em nome do governo do Estado que “Nós precisamos de estudos científicos, de algo concreto afim de que possamos mudar procedimentos”. Que falta de conhecimento sobre estes e outros temas referentes ao efeito de inúmeros represamentos e mudanças hidrográficas nos rios que formam a bacia do Paraguai e, consequentemente, o Pantanal...
Bastaria uma longa é única conversa com o ex-responsável pela Defesa Civil do Estado, o senhor Domingo Iglesias, para que o entrevistado parasse de falar asneiras.
A aula, meus caros, é impossível de ser ministrada. Todo mato-grossense de boa estirpe sabe o que aconteceu com o mestre, após ser dispensado pelo ex-governador. O mesmo que alargou os caminhos para as atrocidades cometidas contra o meio ambiente.
Onde está o Zoneamento Antrópico Ambiental de Mato Grosso, aquele encaminhado por Dante de Oliveira? Quem se anima a compará-lo com a peça aprovada pela Assembléia, quase uma década depois?Abstraiam, filtrem, sobrevivam. Mas cientes que estamos vendo acontecer crimes ambientais irreparáveis, patrocinados por cúmplices irresponsáveis da destruição de um Patrimônio Ecológico da Humanidade, o Pantanal.
Lembrem-se: neste caso, ao contrário do exemplo da praia, ninguém abrirá mão de sua posição privilegiada em troca de um almoço a beira-mar. Os predadores, dispostos a exaurir o bem de todos em troca de uma possibilidade de lucro financeiro, destruirão apenas para juntar mais uns trocados. Como se já não tivessem o suficiente...
* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série Parador Cuyabano, do SEM FIM HYPERLINK "http://delcueto.multiply.com" \t "_blank"http://delcueto.multiply.com
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