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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

De volta ao caderninho

Texto de Valéria del Cueto

Fez de “um” tudo para escrever a crônica. E nada. Algo a impedia. Tentava fazê-lo no seu notebook onde podia ser mais veloz nas correções e pular a etapa de digitar os textos, o que ocorria quando os “desenhava” manuscritos.

Não andou. Faltava alguma coisa e esta coisa levava à outra...

A primeira, era o caderninho onde desde sempre registrava seus escritos publicáveis (havia outros, noutros lugares). A segunda, o entorno exigido para o manuseio do caderninho.

Na mesa, era horrível escrever. Na cama, idem. No chão... O caderno não se adequava àqueles meios e se recusava a ser utilizado no dito ambiente.

Afinal, estava acostumado as amplitudes, ao ar aberto e um mínimo de horizonte visível, fosse na Ponta do Leme, no Rio de Janeiro, na casa da piscina sem número, situada na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso ou na estância do Nilson, em Uruguaiana, seus dotes e atributos já estavam comprovados, seu talento consolidado.

Então, não era assim: “escreve aí, manda bala e pode banalizar o ritual”. Não mesmo!

Portanto, entendendo a mensagem e sabendo da importância do procedimento, lá foi ela em busca de uma solução viável para o impasse.

Tudo, menos repetir a dose da semana anterior, quando escreveu o texto em cima do laço, numa ilha de edição, usando um computador alheio gentilmente cedido para que ela pudesse tirar a corda das mãos do editor antes que ele puxasse o laço e, finalmente, ela pudesse tirar o pai da forca.

Naca contra o assunto esportivo, a menção as provas atléticas da vida, ao Pan Americano, em Guadalajara. O problema foram os erros de digitação ignorados pelos revisores. O caderninho sempre foi mais seguro.

Não infalível, por que nada é infalível nessa vida de disléxica, em que a mão esquerda sempre foi mais ágil que a direita, fazendo questão de exibir quando possível, o que considera um talento, egoísta que é.

Razões que a levaram a procurar atender as exigências do caderninho temperamental no que tange ao cenário de sua utilização.

Como você está lendo essas palavras, pode deduzir que nosso personagem conseguiu atender aos pré-requisitos necessários para voltar à seu ideal lítero-produtivo.

A saber: local aberto, ao sol com uma sombra protetora (em se tratando de Cuiabá elemento essencial) que faz desenhos na pedra de São Tomé, enquanto o coqueiro que a produz balança suas folhas embalado por uma leve brisa (isso é um problema). O barulhinho da copa sibilando quando embalada pelo vento (olha ele aí de novo). O som da passarada variada conversando animadamente nas mangueiras do campo de visão. Um espelho d’água (no caso de uma piscina). Um verdinho vegetal representado por tufos de plantas ornamentais e a hera que sobe pelo muro. Para encerrar, um pouco de inspiração para que nossa cronista possa chegar ao final das três páginas necessárias para preencher seu espaço semanal.

Ah, dessa vez ela usou uma caneta vermelha para destacar em seus alfarrábios a crônica que escreveu sob o impacto da barbárie das cenas que mostram o assassinato de Kadafi para o mundo. Aquele que anunciaram que acabaria ainda hoje...



* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série Parador Cuyabano do SEM FIM http://delcueto.multiply.com


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Valéria del Cueto

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