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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Minha primeira mordida



Texto de Valéria del Cueto
Meu primeiro computador foi o Apple II, comprado de segunda mão de um harleyro brasileiro que morava em New York. Ele tinha uma oficina mecânica e, como aficionada por motocicletas, uma das visitas que mais me marcaram, na primeira viagem que fiz aos EUA, foi ao seu local de trabalho. Ali, além de arrumar máquinas alheias, ele mantinha uma incrível coleção de mais de uma dezena de Harley Davidson, algumas verdadeiras antiguidades.

No meio daquelas jóias foi que vi o Apple e, encorajada por seu proprietário, digitei algumas palavras em seu teclado sem cedilhas. As letrinhas verdes que surgiram na tela escura mudaram minha vida para sempre. Já saí da oficina como a feliz possuidora daquela maravilha tecnológica. Meu amigo queria fazer um up grade no seu equipamento e não hesitou em passar à frente seu modelo velho e sujo de graxa.

Fomos a uma loja, onde ele me ajudou a comprar alguns programas. Entre eles um de imagens e outro que diagramava um jornalzinho.

O problema a seguir (só pensei nisso depois) era como colocar a máquina no Brasil. Naquele tempo, acreditem, era proibido por lei importar material de informática. Diz que pra fortalecer nossa ainda incipiente indústria no setor ou algo assim.

Apelei para meus contatos das TVs onde havia trabalhado. Eles “importavam” máquinas novas e peças de reposição de seus equipamentos. Graças aos sérios e demorados problemas burocráticos para trazê-las para o país, havia uma rede poderosa de “importação” paralela.

Me lembro que custava 30 dólares o quilo de produtos trazidos e, caso fossem descobertos, quem dançava era o comprador. Foram dias tensos e os caminhos que meu computador percorreu até chegar a Cuiabá foram longos e tortuosos.

Valeu a pena. Aquele Apple II mudou a minha vida e a de, pelo menos, mais uma pessoa: a que o herdou quando o troquei, anos mais tarde, pelo meu primeiro PC, então já importado legalmente de um lugar mais próximo, o Rio de Janeiro.

O primeiro sucesso de Steve Job transformou minha forma de ver o mundo e as possibilidades de atingi-lo. E olha que ainda não existia a internet!

Junto com ele veio uma impressora matricial (vocês sabem o que é isso?) e a dificuldade de conseguir seu tonner assombrava minhas experiências iniciais com a informática. Mas só de pensar que a cada erro de digitação bastava retroceder e corrigir sem ter que começar tudo de novo numa outra folha de papel e que o liquid paper e seus similares estavam definitivamente excluídos de minhas listas de material de papelaria, já fazia de mim uma redatora muito, mas muito mais feliz!

De lá para cá, por questões de compatibilidade com as agências e produtoras de Cuiabá, troquei a máquina maravilhosa e já caquética de Steve Job pelos PCs. Afinal, de que adiantava produzir os trabalhos numa plataforma incompatível com a vizinhança emergente?

Hoje, luto para voltar aos braços charmosos (e sempre mais caros) da maçã. O faço com planejamento e convicção que estarei mais próxima do futuro e agindo com a mesma audácia que me fez investir dinheiro e muito tempo de estudos no meu Apple II “irregular”.

Com a virada que estou dando nos meus objetivos profissionais é imperioso que trabalhe com o equipamento que está “anos luzes” a frente de seus concorrentes quando o assunto é tratamento de imagens.

Do Apple ao Mac, Ipod, Ipad e afins foi um longo e estimulante caminho que não pude percorrer, mas acompanhei muito de perto, torcendo e aprendendo a cada novidade genial. Que o diga Steve, esteja onde quer que esteja, cuidando de novos Jobs por lá.

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série Parador Cuyabano do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

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