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sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Areia alheia
Areia alheia
Texto e foto(s) de Valéria del Cueto
Estou no vácuo. Indo no rastro. É uma sensação estranha. Só pode ser alcançada quando tudo é igual. O tempo, a respiração, o movimento e a proporção.
Bom, a partir deste ponto, é só se deixar levar e despencar parede abaixo. O empuxo quase fisga as pontas dos pés. Mas uma pernada no tempo certo faz com que a armadilha se fecha centésimos de segundo atrasada.
A sensação é quase indescritível (se assim o fosse, o que eu estaria fazendo aqui?) de tão gostosa. Deixar o corpo ser levado, envolto em tanta água. Um turbilhão de umidade relativa do ar e do mar.
Principalmente considerando a realidade desnuda que nos circunda. Depois de uma segunda temporada bastante amena (a primeira não conta, por que estava em Rondonópolis e só lembro do calor do mar morto de brita que havia entre a produtora e as mangueiras que sombreavam os quiosques da chácara onde trabalhávamos). O que temos enfrentado este ano é o bafo do inferno. Seco, queimando e torrado.
Está todo mundo com cheiro de fumaça, olho ardido e pele crecada. Ela está por todos os lados, provocando uma ilusão de ótica de fog inglês (tudo fosco, nada definido) para quem se tranca no ar condicionado e uma sensação térmica de bigorna para os que ousam enfrentá-la de frente e de lado, por cima e por baixo. Circundante e irrespirável, na media em que sentimos o ressecamento de cada uma de nossas vias respiratórias, sejam elas free ways naso-toráxicas ou as mais insignificantes vielas bronco-pulmonares.
Tudo isso confeitado e esculpido pela poeira circundante e entranhenta. Estamos entre os 14 estados da federação em estado ressecado de calamidade pública declarada.
Sublimo minha participação e testemunho neste triste episódio, conforme poderão ver nas imagens que ilustram esta crônica, me transportando para a miragem da onda que me leva e onde quase me embolo no mar da Ponta, na praia do Leme.
PS: A título de informação: no meu oásis por enquanto inalcançável, o mar está calmo, com ondas medianas quebrando longe da beira da praia, além da linha usual da arrebentação, que é pra ter espaço para um jacaré alongado antes de sair da espuma, e a temperatura da água é tépida.
* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Parador Cuyabano, do SEM FIM HYPERLINK "http://delcueto.multiply.com" \t "_blank"http://delcueto.multiply.com
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