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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A importância de fechar a boca e abrir os braços

Uma amiga ligou com notícias perturbadoras: a filha solteira estava grávida.

Relatou a cena terrível ocorrida no momento em que a filha finalmente
contou a ela e ao marido sobre a gravidez.

Houve acusações e recriminações, variações sobre o tema
"Como pôde fazer isso conosco?" Meu coração doeu por todos: pelos pais
que se sentiam traídos e pela filha que se envolveu numa situação
complicada como aquela.

Será que eu poderia ajudar, servir de ponte entre as duas partes?



Fiquei tão arrasada com a situação que fiz o que faço
– com alguma frequência – quando não consigo pensar com clareza:
liguei para minha mãe. Ela me lembrou de algo que sempre a ouvi dizer.

Imediatamente, escrevi um bilhete para minha amiga, compartilhando
o conselho de minha mãe:

"Quando uma criança está em apuros, feche a boca e abra os braços."

Tentei seguir o mesmo conselho na criação de meus filhos. Tendo tido
cinco em seis anos, é claro que nem sempre conseguia. Tenho uma
boca enorme e uma paciência minúscula.


Lembro-me de quando Kim, a mais velha, estava com quatro anos
e derrubou o abajur de seu quarto.

Depois de me certificar de que não estava machucada, me lancei
numa invectiva sobre aquele abajur ser uma antiguidade,
sobre estar em nossa família há três gerações, sobre ela precisar ter
mais cuidado e como foi que aquilo tinha acontecido – e só então percebi
o pavor estampado em seu rosto. Os olhos estavam arregalados,
o lábio tremia.



Então me lembrei das palavras de minha mãe. Parei no meio da frase
e abri os braços. Kim correu para eles dizendo: – Desculpa... Desculpa – repetia,
entre soluços. Nos sentamos em sua cama, abraçadas, nos embalando.
Eu me sentia péssima por tê-la assustado e por fazê-la crer,
até mesmo por um segundo, que aquele abajur era mais valioso
para mim do que ela.

– Eu também sinto muito, Kim – disse quando ela se acalmou
o bastante para conseguir me ouvir. Gente é mais importante
do que abajures. Ainda bem que você não se cortou.

Felizmente, ela me perdoou.

O incidente do abajur não deixou marcas perenes. Mas o episódio
me ensinou que é melhor segurar a língua do que tentar voltar atrás
após um momento de fúria, medo, desapontamento ou frustração.

Quando meus filhos eram adolescentes – todos os cinco ao mesmo tempo
– me deram inúmeros outros motivos para colocar a sabedoria de minha mãe
em prática: problemas com amigos, o desejo de ser popular,
não ter par para ir ao baile da escola, multas de trânsito, experimentos
de ciência malsucedidos e ficar em recuperação.



Confesso, sem pudores, que seguir o conselho de minha mãe
não era a primeira coisa que me passava pela mente quando um professor
ou diretor telefonava da escola. Depois de ir buscar o infrator da vez,
a conversa do carro era, por vezes, ruidosa e unilateral.

Entretanto, nas ocasiões em que me lembrava da técnica de mamãe,
eu não precisava voltar atrás no meu mordaz sarcasmo, me desculpar
por suposições errôneas ou suspender castigos muito pouco razoáveis.

É impressionante como a gente acaba sabendo muito mais da história
e da motivação atrás dela, quando está abraçando uma criança,
mesmo uma criança num corpo adulto.
Quando eu segurava a língua, acabava ouvindo meus filhos
falarem de seus medos, de sua raiva, de culpas e arrependimentos.
Não ficavam na defensiva porque eu não os estava acusando
de coisa alguma. Podiam admitir que estavam errados
sabendo que eram amados, contudo. Dava para trabalharmos
com "o que você acha que devemos fazer agora", em vez
de ficarmos presos a "como foi que a gente veio parar aqui?"


Meus filhos hoje estão crescidos, a maioria já constituiu a própria família.
Um deles veio me ver há alguns meses e disse "Mãe, cometi uma idiotice..."
Depois de um abraço, nos sentamos à mesa da cozinha.
Escutei e me limitei a assentir com a cabeça durante quase
uma hora enquanto aquela criança maravilhosa passava
o seu problema por uma peneira.

Quando nos levantamos, recebi um abraço de urso
que quase esmagou os meus pulmões.
– Obrigado, mãe. Sabia que você me ajudaria a resolver isto.
É incrível como pareço inteligente quando
fecho a boca e abro os braços.

Diane C. Perrone

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